A Ir. Lina Boff iniciou o Curso
de Mariologia afirmando que a sua Teologia, na perspectiva mariológica, reflete
sua forte experiência missionária com os seringueiros do Acre na década de 60,
com os menores infratores da FEBEM no Rio de Janeiro, expandiu-se para a
África, Correia do Sul, Filipinas e aprofundou-se na Academia, por isso fala, não só o que sabe e estudou, mas,
sobretudo, aquilo que vivenciou. Então, pode nos ajudar a “sair da devoção e
chegar às origens, para conhecer os fundamentos, visando aprofundar e degustar,
de forma espiritual, para levar ao mundo o que recebermos aqui”.
Recordou-nos “Como tudo começou com
Maria de Nazaré”, pois vemos, nos Evangelhos, que Maria não era conhecida como
hoje a cultuamos: a Nossa Mãe, Nossa Senhora da Vida, da Encarnação, da
Humanidade, era vista e tratada como todas as mulheres judias de seu tempo.
Assim, em Gl 4,4, quando Paulo afirma que Deus
enviou o seu Filho nascido de uma mulher..., ressalta: 1) o mistério da
Encarnação do Filho de Deus, Segunda Pessoa da Trindade, que nasce fora da
estrutura da Aliança, porque nasce de uma mulher; 2) o mistério da mulher que
gera homens e mulheres para Deus, pois existe a maternidade biológica, a
espiritual e a intelectual.
Afirmou Ir. Lina que a primeira
revelação de comunidade se dá em Maria, primeira mulher a receber o Espírito
Santo, que é o amor que o Pai tem pelo Filho, por isso, toda a Comunidade Trinitária
está contida no útero de Maria. E prosseguiu: “A Teologia precisa ser inclusiva,
tirar Maria do andor e trazê-la para caminhar conosco, colocá-la no meio de
nós”. Também refletiu que “não é verdade que o Evangelho fala pouco em Maria,
fala o suficiente, nós é que ainda não percebemos as consequências”. Sugeriu
que façamos uma leitura pormenorizada do oitavo capítulo da Lumen Gentium, a fim de compreender que
“Maria está no último capítulo como coroamento da caminhada da Igreja, porque
foi a única mãe que se tornou discípula do próprio Filho. Maria é Mãe e membro
da Igreja porque participa, como Mãe de Cristo, que é Cabeça e fundador da
Igreja. Cristo é o único mediador e Maria participa da mediação de Cristo, não
é uma deusa, ela participa daquilo que o Filho é, por isso não a colocamos no
sacrário”
Em sua reflexão, Ir. Lina diz que “o Filho
ultrapassou Maria pela sabedoria e Maria ultrapassou Jesus pela fé. A crise que
o Filho teve no Getsêmani, a mãe experimentou primeiro, e sua conversão
terminou ao pés da Cruz. Maria passou por um processo gradativo até compreender
que o Filho não era seu, mas de Deus”. Ressaltou que Mateus coloca José como
protagonista e, junto com Lucas, fazem a teologia da ternura. Mateus se
preocupa com a comunidade, então, traz a genealogia, a origem biológica de
Jesus, a descendência de Davi. Lucas é o único que dá a palavra a Maria quatro
vezes, apresenta uma Maria ativa, esclarecida, que quer saber das coisas: na
Anunciação, Como isso vai acontecer e
Eis aqui a serva do Senhor; canta no Magnificat e, ao encontrar Jesus no
templo: Filho, por que fizeste isso
convosco?
Sobre o Magnificat, lembrou-nos que entrou nas
CEBs como um cântico revolucionário, na época do Vaticano II polarizado, porém
sinaliza o momento em que Maria sente confirmada a sua gravidez e irrompe num
Canto que tem um núcleo terno (aquilo que Deus está escutando como clamor do
seu povo) e um núcleo duro (aquilo que está acontecendo), para expressar “a
indignação de Maria ao ver o sofrimento de seu povo; Maria abre sua alma ao
Senhor e deixa seu Espírito fazer a experiência mística, porque a alma é o que
dá identidade, traz os sentimentos, as emoções, os registros da genealogia; o
Espírito, é a força mística que provoca a explosão do que tem dentro”.
Alertou-nos que devemos dar visibilidade àquilo que somos, porque foi Deus quem
nos deu a força e podemos aplicar este Canto às nossas mães e às nossas filhas
casadas, atentando para os sinais de Deus e a presença d’Ele nas pessoas.
Ainda em Lucas, foi destacada a presença de
Maria na Igreja que estava sendo gestada, registrando que as mulheres estavam
lá para receber o Paráclito, então, os ensinamentos de Jesus incluem as
mulheres, embora no momento do “envio” só haja homens. Isso prova que o
discipulado feminino é antigo, porque não era só Maria que estava lá, mas
também suas primas e amigas que seguiam,
serviam e ouviam Jesus. E deixou os questionamentos: por que as mulheres
não aparecem na pregação se receberam o Paráclito? Onde foram parar as
mulheres?
No Evangelho de João 2, 1-10, encontramos a
festa de casamento, na qual Maria foi atendida porque se dirigiu aos
“serventes”, que sabiam o conteúdo das talhas; ali, Jesus é o “vinho novo” e temos
o “mandamento de Maria: Fazei tudo o ele
vos disser. “Como Maria está ao pé da Cruz” é o coroamento da caminhada de
Maria, porque ali ela entende o que Jesus lhe disse no templo; temos a herança
e o testamento de Jesus: “a humanidade é acolhida na generosidade de Maria, que
está firme, de pé, ensinando-nos que não se deve interrogar a Deus nos momentos
de dor e provação, apenas viver e, depois, virá o entendimento, porque os
caminhos d’Ele são diferentes dos nossos. Nunca projetar de forma fechada,
deixar espaço para Deus agir, porque Ele intervém. Jesus nos deixou a sua Mãe
como herança. Maria é Mãe do Filho de Deus e mãe do homem Jesus que é Filho de
Deus”. (Marize Pitta)
Marize: parabens pelo seu comentário e seu poder de síntese, que muito admiro.Bjs Conceição
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