sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os Sete Sinais de Cristo no Evangelho de João

O Pe. Johan Konings, SJ, iniciou o Curso declarando que o quarto evangelista é um bom pregador, pois começa contando histórias de Jesus que deixam transparecer alguma coisa, mas não tudo, e, depois, apresenta os sete sinais (capítulos 2 a 12); na segunda parte, é o livro da Glória (manifestação), onde o evangelista deixa Jesus explicar o sentido daquilo que Ele fez. O importante do Evangelho de João é situar a Glória no lugar certo e na hora certa: na cruz, quando Jesus diz “Tudo está consumado” (12, 31-32); no fim dos sinais, quando Jesus fala com o Pai (12, 20-50) é uma dobradiça que une os dois painéis do Evangelho: Sinais e Glória (13-20) e ajuda a compreender a narrativa.

Uma primeira coisa a indagar: por que SINAIS? A palavra milagre não está no Evangelho, porque significa algo para mirar; daí tiramos a lição de que aquilo que é chamado milagre não é só para mirar porque é bonito e impressionante. Os Evangelhos usam o termo dinamus, que significa força, poder. As obras de Jesus são chamadas de obras de poder. Mas, que poder? Significa que pode fazer alguma coisa, não significa opressão. Poder é uma coisa boa, se não houver abuso. A palavra poder é alternada com a palavra autoridade, que pode ser exercida com amor e compaixão. A autoridade deveria ser entendida como autorização, autoridade delegada. Jesus fala com a permissão do Pai. É a combinação do poder de Jesus com a autorização do Pai. Jesus executa o poder do Pai.
O termo sinais remete a um significado. Devemos ver, nas obras notórias de Jesus, o sinal de algo mais; não ficar só olhando as curas, mas sim, o sinal do Reino de Deus que está começando: é um sinal de Deus, não é sinal de Jesus. As pragas do Egito (Ex 4, 2-9) são sinais para que Moisés possa falar ao Faraó com a autorização de Deus, são os sinais com os quais Deus autorizou Moisés a falar. Um sinal é algo com que Deus autoriza o profeta a falar para mostrar que Deus está com ele, com o seu profeta. Em Jo 3,2 Nicodemos diz: “ninguém é capaz de fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele”. Nem todo mundo entende o sinal como uma missisiva. Jesus mesmo desconfia de quem só acredita Nele por causa dos sinais. O primeiro significado de sinal em João é Deus está com ele.

Todos os sinais em João anunciam a hora em que se manifesta o tempo novo, a vida nova, o plano de Deus que se cumpre. Significa que o tempo definitivo já começou, a realidade decisiva, definitiva, já está aí, é a escatologia. Para sorver o Evangelho e as Cartas de João, temos de pensar que o tempo de Deus já começou na cruz de Cristo, onde Jesus revelou o Amor do Pai, amando-nos até o fim. Nós vivemos na presença da última realidade, por isso, crer em Jesus já é ter a vida eterna. Todos os sinais de Jesus significam que o tempo novo já se instalou. Em cada sinal, vamos verificar as três dimensões que enriquecem o sentido:


1. Dimensão cristológica: Cristo é o profeta, respaldado com o sinal, para significar que Deus está comEle. Cristo é um profeta que faz sinais que anunciam i reinado de Deus.
2. Dimensão simbólica: um dom que Deus nos dá, que não só vem através de Jesus, mas Jesus é a luz do mundo, o pão da vida.
3. Dimensão escatológica: fala do tempo final, estamos num tempo novo, final, que dá sentido definitivo à nossa vida. Nós vivemos a escatologia presente ou antecipada quando fazemos Jesus a referência da nossa vida. Quem adere a Jesus já entrou no tempo final e podemos estar seguros quando estamos com Ele.

Assim, no transcorrer do Curso, fomos percorrendo os sete sinais e neles identificando as três dimensões. No primeiro sinal (Jo 2, 1-11), observar: “no terceiro dia”, outras coisas acontecem no terceiro dia...; por que “a mãe de Jesus”? Jesus foi convidado através da sua mãe e, através Dele, os discípulos também são convidados; “a minha hora ainda não chegou”; “guardaste o vinho bom até agora”.

1º aspecto (uma obra do profeta, mostrando que Deus está com Ele): a mãe tem confiança de que Deus está com Ele e diz “fazei tudo o que ele vos disser”; 2º aspecto (o símbolo do dom que Jesus é): qual é o dom? O que Deus está doando? João enfrentava a gnose (um movimento de intelectuais), por isso precisava falar mais profundo, para atrair as pessoas a procurar o sentido simbólico. Aqui, a festa de casamento, cuja palavra tradicional é núpcias, remete às núpcias messiânicas (Mc 2,13). Falta vinho e a mãe de Jesus intervém. João relaciona Maria com a obra de Jesus; ela está aqui, no começo, e estará, também, no fim. Jesus foi o verdadeiro noivo, porque foi Ele quem forneceu o vinho. 3º aspecto (o sinal do tempo novo): agora é o tempo que vale para sempre. Caná é a cidade da novidade messiânica. Aqui foi só o início da manifestação da glória de Deus e significa aquilo que Deus é. Em Caná, Jesus fez um sinal, mas ainda não chegou a sua hora. Lá, começou o reencontro de Deus com o seu povo.

O segundo sinal (Jo 4, 46-54): Cura do filho do funcionário do rei: 1º) o sinal do profeta (Deus está com Ele): a confiança do funcionário e o tipo de milagre, pois devolver a vida remete a Elias e Eliseu. 2º) o simbolismo: Jesus dá aquilo Ele mesmo é: a vida. Jesus é o dom da vida para o filho curado e para toda a família. Jesus é o dom que oferece. 3º) o tempo novo: a hora sétima é a hora plena, a configuração, a chegada do tempo novo.

Em Jo 5, 1-18 encontramos outro sinal de cura (o terceiro) no coração do judaísmo, a repetição de “Pega a tua maca e anda”. Curando, Jesus age como outros profetas e a presença de Deus em Jesus é mais profunda, porque Ele tem sempre o Pai diante de si e faz a mesma coisa que o Pai faz, está intimamente unido ao Pai. Mas os judeus tiram uma conclusão delicada: de que Jesus faz igual a Deus. A presença de Deus em Jesus é muito forte porque Ele faz a obra do Pai. 2º traço; Jesus é símbolo da vida, mas não só da vida física, também da vida eterna, por isso diz “estás curado, agora não peques mais”, é a saúde espiritual. A doença pode se tornar símbolo da imperfeição da qual o homem foi curado, por isso nãopode mais afastar-se de Deus. É símbolo da vida renovada, em que a pessoa entra em Deus e Deus nela. 3º traço: o tempo novo e definitivo que é a vida eterna (Jo 5,19-30). A obediência de Jesus: Jesus dá ouvido ao Pai. Assim como o Pai dá a vida, Jesus também pode dar a vida, porque está em união com o Pai. Jesus é, na terra, aquele que faz a vontade do Pai. Observar: ‘já passou da morte para a vida” significa que, crer em Jesus é ter a vida eterna e aquilo que Jesus nos propõe não perde o valor nunca, é eterno. A vida eterna é aquilo que ninguém pode tirar de mim. O cristão que faz aquilo que Jesus ensina já tem a vida eterna; aderindo a Ele por nossa fé e nossas ações, mas nós temos as nossas infidelidades...

No capítulo 6, João apresenta dois sinais: o 4º (a multiplicação dos pães) e o 5º (a caminhada de Jesus sobre as águas). Neles, encontramos: a) o sinal de que Deus está com o profeta: quando Jesus diz “Eu sou”; a lembrança dos profeta Moisés e Eliseu (Jo 6,9/Rs 4) o profeta que também saciou uma turma de soldados com o alimento que um menino trazia; b) o sinal do dom de Deus: a presença de Deus em Jesus, quando Jesus usa as mesmas palavras de Deus na sarça ardente; o dom da palavra de Jesus e o dom da vida; a certeza e segurança que Deus dá da presença de Jesus no 5º sinal; c) a presença do tempo novo: “Eu sou” não é passado, é o tempo de Deus que é eterno; a mudança que aconteceu com a presença de Jesus (a tempestade muda em calmaria); o pão que Jesus dá é o pão da vida eterna; o tempo que virá: a novidade.


Em Jo 9, Jesus encontra o cego de nascença, um excluído, temos aí o sexto sinal. O milagre é só mencionado, o mais importante não é o fato, mas as consequências. Querem saber como aconteceu e não o que aconteceu. O primeiro patamar da renovação do cego: ele é alguém que afirma “Sou eu mesmo”. Os olhos foram abertos para que possa ver O Filho doHomem. Aspectos simbólicos: o próprio cego já diz que Jesus é um profeta; a cegueira faz contraste com “Eu sou a luz do mundo”. Este cego recebe e acolhe a luz que é Jesus. É a abertura dos olhos espirituais que leva o cego a fazer a profissão de fé: “Eu creio”. O texto mostra o caminho da iniciação cristã, como acontece, também, com a Samaritana e com Lázaro: são três leituras onde a Igreja reconhece o caminho da fé. Esses três evangelhos são o espelho da iniciação cristã. O simbolismo principal é este: Jesus é a luz! Outro simbolismo é que Jesus faz barro, como Deus fez barro para criar o homem; aqui é a nova criação: o cego renasce para a vida nova. Os judeus representam o tempo antigo e o cego representa o tempo novo, a plena comunhão com Cristo. Aquele que não tinha nada recebe de Cristo, como dom e tarefa, porque o cego começa a testemunhar, como nós o fazemos com a nossa vida. Os três elementos: 1) versículos 7 e 30: o sinal mostra que Jesus é enviado por Deus; 2) o dom é a luz / a água que é o novo nascimento; 3) a novidade, no contraste com os fariseus, que se apegam a tudo que é velho.

O Pe. Konings também destacou que o sétimo sinal é aquele que completa. Primeiro, temos a materialidade do fato: Jesus ressuscitou mortos como Elias e Eliseu em 2 Rs, mas João sobrepõe à materialidade dos fatos as dimensões cristológica, simbólica e escatológica, para ressaltar o mistério de Deus presente, o invisível. Importa ver a ação de Deus naquilo que Jesus fez. Lázaro representa o homem renascido pela fé em Jesus Cristo. A vida nova que se recebe de Jesus Cristo deve ser acompanhada pela comunidade. Não é só o Batismo e a Profissão de fé, é o símbolo do cristão que passa da morte para a vida. O 3º aspecto, o tempo novo é quandoJesus diz a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida”. Vida que se realiza em Jesus, que é dom do Pai. Lázaro já vive para Deus.

Ao concluir o Curso, com algumas declarações bastante densas, o Pe. Konings deixou material para reflexão pessoal e comunitária. Vejamos:

João é tão anônimo quanto os construtores de catedrais e as mulheres. Em João, os sinais não valem por si mesmos, só valem para os olhos da fé. A própria morte pode ser ocasião para manifestar a glória de Deus. Neste sentido, será a morte de Jesus o oitavo sinal?

Deus criou o ser humano livre, deu-lhe a liberdade de não enxergar. Há uma crítica de Jesus àqueles que enxergam alguma coisa, mas não têm coragem de dizer, de anunciar. Quem vê Jesus com os olhos do Pai vê Deus. Jesus não quer condenar, a sua Palavra nos coloca diante de uma opção. Diante dos sinais que confirmam a Palavra de Deus, nós temos que fazer a nossa opção.

Vivemos no provisório, por isso, cada dia precisa ser um reencontro com o Evangelho, porque cada dia é um dia novo e nossa opção por Jesus é cada dia nova. Nós nunca somos eméritos e sempre devemos estar alerta à novidade de Jesus que se torna presente em nossa vida.

O amor de Deus está na fidelidade de Jesus. Jesus poderia ter fugido, e tudo que Ele anunciou estaria perdido. O amor de Jesus se traduz na fidelidade, que é a continuidade do amor assumido até o fim, que é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem Jesus. O que Jesus é, nós somos no mundo.

A contemplação dos sinais de Jesus é um apelo para que sigamos os seus passos, transformando os eventos do caminho em ocasiões para a glória de Deus se manifestar. O amor de Deus não é só o amor por nós, é o amor com que Deus ama o mundo em nós. Amar o mundo é fazer o mundo perceber esta manifestação de Deus. Devemos ter amor a este mundo que espera a manifestação do amor de Deus. O oitavao sinal, nós celebraremos na Eucaristia! (Marize Pitta)

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