A eleição do Papa Francisco é o gesto-resposta de
Deus à situação de prostração, de abandono e de desamparo da Igreja nesse
momento histórico. É uma resposta que nos surpreendeu. Primeiro pelo resultado
inesperado do conclave, e a seguir pelo modo simples, frágil e desarmado do
Papa Francisco desde a sua primeira manifestação.
Ainda estamos
saturados pela avalanche de notícias e informações que os meios de comunicação
não cessam de despejar sobre nós. A cada dia aparecem traços novos e
surpreendentes do Papa. São gestos fortes, capazes de comover as pessoas
comuns, homens e mulheres, i.é. seres humanos, católicos ou não. Qual é a razão
da sua força?
O experimentado até
agora nos permite condensar a novidade do Papa Francisco em três aspectos
fundamentais: o seu estilo simples e humano, a naturalidade da sua profundidade
espiritual e uma aproximação da Igreja ao mundo.
a) O seu estilo
simples e humano chamou a atenção desde o início e cativou os mais diversos
grupos de pessoas, desde o cristão simples, até os teólogos mais críticos,
passando pelos homens e mulheres comuns da rua. São gestos simples, muito
humanos, plenamente 'normais': pagar a conta no hotel, voltar à casa de ônibus
com os cardeais, fazer ele mesmo uma ligação para falar com o nosso Pe. Geral,
a visita inesperada à Basílica Santa Maria Maior ou a espontaneidade com que se
dirigiu hoje de manhã a mais de seis mil jornalistas, etc.
Esse modo de ser só
se tornou possível com a renúncia de Bento XVI. Ao renunciar, Bento XVI
devolveu à figura do Papa os seus contornos humanos: ele é também um ser
limitado, condicionado de muitas formas, fragilizado pela idade, capaz de
alegrar-se e de sofrer como qualquer ser humano. Ora, a exaltação mítica da
função corre o risco de sobrepor-se à pessoa do Papa e anulá-la. E quando a
pessoa desaparece por trás da função, se torna insignificante em si mesma.
A figura do Papa
tinha uma aura de sagrado, algo deslumbrante, cheio de fascínio, mas distante
dos problemas concretos e da vida cotidiana das pessoas. No Papa Francisco a
pessoa aparece em primeiro plano e devolve vida e calor humano à função. Essa
pode ser a razão pela qual os gestos simples do Papa despertam tanto ânimo e
esperança nas pessoas. ‘Um Papa humilde’, estampa um jornal na manchete
principal. ‘É um dos nossos’, exclama Angélica, jovem italiana de 30 anos.
O caminho da Igreja,
havia dito muitos anos atrás Paulo VI, é a humanidade. Francisco parece ter
encontrado esse caminho. Por meio da sua simplicidade, proximidade e ternura,
Deus está chegando ao coração das pessoas. É lá que Ele nos interpela: no mais
profundo de cada um, onde, como qualquer ser humano - membros ou não da Igreja
- nos encontramos com a nossa 'humanidade'. E é lá que nos diz: Vive o que
estás chamado a viver!
b) Com esse modo de
ser, o Papa Francisco está acenando para todos que o caminho da Igreja não é a
ostentação, a grandiosidade ou o poder. A linguagem da Igreja tem que ser a
linguagem simples da vida, como a de Jesus nas parábolas do evangelho.
Essa referência ao
evangelho está inscrita na escolha do nome, como ele mesmo explicou hoje de
manhã na audiência aos jornalistas. 'Francisco' é uma referência ao evangelho
sem glosa: o homem dos pobres, o homem da paz, o amante da criação. Ao escolher
esse nome é possível que o novo Papa, como jesuíta, se tenha lembrado que a
referência a Francisco de Assis esteve presente e teve um forte impacto no
início do processo de conversão de Santo Inácio (cfr. Autobiografia n. 7).
Na força dos gestos
humanos do Papa Francisco transparece uma profundidade espiritual que tem suas
raízes no evangelho. O centro da Igreja, o coração da Igreja é Cristo, não o
sucessor de Pedro. Sem essa referência fundamental nem o Papa nem a Igreja
teriam razão de existir. Palavras contundentes, pronunciadas na alocução aos
jornalistas, mas plenamente coerentes com o que diz Paulo da sua experiência
(segunda leitura de hoje). O evangelho é o caminho de vida e de evangelização
para a Igreja.
c) A Igreja,
portanto, não existe para si mesma, não tem em si mesma a razão de ser: existe
para ser enviada, a sua finalidade é o serviço do evangelho. Com seu modo de
ser, simples e informal, o Papa Francisco começa a tender pontes entre a Igreja
e o mundo. A força dos seus gestos vai além da quebra do protocolo; com eles o
Papa faz sentir e experimentar às pessoas que a Igreja se aproxima, se inclina
e quer dialogar com elas, escutando primeiro as suas angústias e preocupações,
e depois anunciando-lhes a boa notícia de conforto que vem do evangelho.
Algo disso,
experimentaram hoje os mais de mil jornalistas de todo o mundo durante a
primeira audiência com o Papa no Auditório Paulo VI. A sua reação calorosa é a
prova de que as palavras do Papa, ao reconhecer a crescente importância dos
meios de comunicação e o ingente trabalho por eles realizado durante a
cobertura do Conclave, chegaram aos corações.
Depois de
desejar-lhes o melhor para eles e para as suas famílias, o Papa terminou com
estas palavras de enorme sensibilidade e respeito pelas diferenças, neste caso,
religiosas: ‘tinha prometido dar-lhes minha bênção, disse o Papa; mas muitos de
vocês não pertencem à Igreja Católica; outros são não crentes; por isso dou a
cada um a bênção em silêncio, respeitando a consciência de cada um, mas sabendo
que todos são filhos de Deus. Que Deus vos bendiga!’.
Com o Papa Francisco,
queridas irmãs e irmãos, Deus está abrindo para a Igreja neste momento
histórico um caminho novo, ‘uma passagem no mar e um caminho entre águas
impetuosas’, como nos dizia a primeira leitura de Isaías, e nos convida a olhar
para o futuro com esperança: ‘não relembreis coisas passadas; não olheis para
fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, que já estão surgindo: acaso não
as reconheceis?’. Que assim seja! (Pe.
Carlos Palacio, SJ)
Olá,
ResponderExcluirA pedra que os construtores rejeitaram... tornou-se a Pedra Angular...
Excelente papado Deus nos proporcione para que sejamos todos ricamente abençoados!!!
Bjs fraternos de paz e bem