Aconteceu no CIES...

Nos dias 27 a 29 de agosto, o Pe. Spencer Custódio Filho, SJ esteve partilhando suas reflexões sobre a temática da Liderança e Espiritualidade. Conheça um pouco das idéias apresentadas:


Dia 27

Para Pe. Spencer, Santo Inácio, quando pensou os EE, desejava provocar um tipo de mudança na sociedade através do protagonismo dos leigos, por isso entende que os EE são uma ferramenta para formar líderes cristãos. Líder não se fabrica. O que é um líder? O que faz alguém ser líder? Quem faz o líder é a causa. Quando é que existe uma causa? A causa faz perceber algo não que está acontecendo na realidade e que poderá acontecer. Se o líder morre, a causa permanece. Os EE procuram conduzir a uma causa.

O líder provoca a liderança dos outros por uma causa. Quando não tem causa, a relação é de pirâmide. Nas empresas, estão sendo criadas as lideranças entrelaçadas em torno da missão. O Documento de Aparecida fala na causa dos leigos. No templo, não se está em missão, está em família, por isso cumpre-se as atividades enquanto membro de uma família. Isto não é missão, porque missão é para fora.

O que une é a causa: tem algo que poderia ser mudado... O que poderíamos fazer juntos? O líder percebe e convoca os outros. Se não tiver uma causa, não age. Perceba: onde você já liderou de fato? Ser chefe é fácil. A causa de Jesus é dele. Qual é a minha causa? Fazemos os EE para dar saltos qualitativos na causa. A experiência espiritual não é para nos ligar com Deus, mas sim, com a vida. Sem causa não vamos fazer lideranças. O cristianismo vai além do humanismo. A causa tem seus limites.

Os EE nos conduzem a fragmentos da realidade. Inácio imaginava interferências pontuais: na possibilidade de cada pessoa (por isso o AE personalizado) tal como você está agora, onde você está e no mundo de hoje. Tal como você experimenta. No retiro, cada pessoa faz sua experiência. A experiência espiritual engaja no presente possível, mas sempre em eclésia, em grupo. A causa não pode ser solitária. O líder provoca o apaixonamento pela causa. Impossível ter uma causa e não provocar o desejo de envolvimento e participação: você já experimentou? Assim provoca o desejo, que é sempre resultado de algo externo.

Provocar a experiência espiritual através dos EE: o primeiro desejo provocado é da relação interpessoal. Quando evangelizamos, provocamos o desejo por Deus. O desejo verdadeiro é descentrado. Ex.: beijo dado e beijo roubado. Os EE visam provocar líderes que sejam capazes de enxergar uma causa em torno de Jesus e, como resultado, a causa de Jesus se fragmente para aquela pessoa ou grupo e se transforme em história. As causas movidas pelo Evangelho terão como referência Jesus Cristo: será um grupo orante, eclesial. O que faz ser cristão é o referencial.

Nos EE, as regras do bem maior podem iluminar nossas ações. Tudo nos EE conduz à prática. Fazer uma releitura das etapas dos EE para perceber a causa e como esta causa poderá provocar um engajamento histórico da pessoa ou do grupo. O líder não é coerente, é sonhador. O líder é provocador de experiências e: 1) percebe a necessidade do grupo: 2) envolve todos na causa. “Sementes do Verbo presentes na realidade” → ficar contemplativo para ver onde Deus já está. O bom líder, se faltar, não faz falta. Ele é dispensável. A boa liderança tem prazo de validade. O que provoca a liderança é a necessidade dos outros → provocar a liderança dos outros. O bom líder sabe a hora de sair.

Jesus é o modelo de aprendizagem para nós: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir”. Só posso seduzir se me deixar conhecer. Qual é a minha possibilidade de liderança? Jesus mudou de plano apostólico. É Deus que muda de opinião. Os EE são o resultado da experiência de um homem:

1ª etapa: Como me sinto na relação com Deus? Pecadores perdoados, amados por Deus

2ª e 3ª etapas: Jesus me provoca a viver esta relação com o divino na própria vida

4ª etapa: provoca o desejo de partilhar com os outros esta experiência

O sacramento da reconciliação projeta no futuro; se for confissão, volta ao passado.

Os EE são experiências, não são conteúdos. O que posso propor para permitir a esta pessoa fazer a experiência? Quem acompanha tem que ser contemplativo da experiência do outro. O importante é o resultado. A experiência que o outro relata, em princípio, é verdadeira.



Dia 28

Liderança e Experiência dos EE

O que faz ter uma causa é o coração, não é a cabeça, a racionalidade. Muitas vezes exigimos muito da cabeça das pessoas, mas a cabeça não muda ninguém e quando muda pior ainda. Estamos trabalhando com o afetivo... Você reza para ser afetado por Deus. 3ª Anotação dos EE: a vontade que surge do desejo de ser afetado. O entendimento não é a coisa mais importante. O caminho da evangelização é o coração. A relação interpessoal é que muda o comportamento. Acompanhar não é ensinar, pois sou instância de verificação da experiência do outro, de ajuda, porque é na relação que a mudança acontece. Somos instância de relação, porque é na relação que a verdade aparece.

A única vontade de Deus é Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. O problema é saber se você está realizando a vontade de Deus. Aí entra o discernimento, não para saber o que Deus quer, mas para verificar se o que eu quero é o que Deus quer. O olhar de Deus sobre tudo que acontece é aquele que está na Bíblia: E Deus viu que tudo era bom. Os tempos de hoje são melhores ou piores que antigamente? O mundo de hoje é infinitamente melhor do que antes. A certeza de Deus conosco nos ajuda a contemplar. O profeta critica porque o mundo poderia ser melhor ainda. Espiritualidade e vida real se cruzam. Tempo e história da Salvação.

A vida cristã não pode ser individualista, solitária. Podemos chegar à santidade do jeito que nós somos, nenhuma marca psíquica ou social pode nos impedir de experimentar Deus. Se a experiência espiritual está impossibilitada pelo humano, Deus não existe. A memória espiritual está no coração. A Eucaristia é constituída de uma experiência eclesial, é a divinização de um encontro pessoal e comunitário, tem o caráter simbólico de uma presença que já existe em mim: Deus está presente em toda criatura do Universo desde a Criação, o que atesta e visibiliza a experiência do outro. Deus cria a totalidade do tempo e não vê os fragmentos, mas sim, a totalidade, por isso Viu que tudo era bom. A relação de Deus conosco é totalizante. No acompanhamento, cuidado para não passar os pré-conceitos. Tudo que falamos e pensamos recebemos de outras pessoas. Muitas das nossas ideias não são religiosas, e sim, culturais. Só depois da restauração da Companhia é que os EE foram instituídos para os jesuítas.

Desafios da Espiritualidade Hoje

1. Sociedade fragmentada em múltiplos centros que no passado eram um. Isto significa que vamos acompanhar pessoas dos diversos universos, por isso a necessidade do acompanhamento personalizado. Do jeito que o mundo está, como podemos ser Igreja? Uma Igreja marcada pelo Concílio de Trento.

2. Aproximações multidisciplinares da realidade, por isso a abordagem espiritual é uma das, não é a única. Motivação multidisciplinar, porque o conhecimento se ampliou muito.

3. A experimentação como antecedente da fé: só acredita naquilo que experimenta, o que é experiência pessoal; os EE criam um espaço de experimentação do divino. A experimentação, misturando elementos de várias espiritualidades, porque nenhuma é perfeita. Se funciona, use! Flexibilidade de modelos: tempo, dia, hora e lugar. Como funciona para você? O importante é experimentar o que é bom para a sua fé. Por isso não acompanhamos para ensinar, somos critério de verificação.

4. Uma vida prazerosa: antes era a cultura do sofrimento e o sofrimento real é pessoal, ele não nos é imposto, entretanto nós o criamos. A cruz não era o destino de Jesus, foi uma consequência. Sinônimo de vida integrada, que me permite dizer que tudo vale a pena, até não fazer nada... tudo pode ser espaço orante. Não é o rito que faz o conteúdo da oração, é a relação.

5. Racionalidade: tem que dar razões para tudo, tem que ter raiz, não é só porque o Papa diz. A fé não é irracional, tem que ter uma lógica, algo que ambos entendam.

LIDERANÇA é uma ESCOLHA feita pela pessoa dentro da história. Ninguém nasce líder. Quem acompanha também é instância de confronto, para ver se é experiência de Deus real ou se é projeção de desejos interiores; por isso os EE têm as Regras, para sair da emoção para a MOÇÃO. Quando está centrada em mim, não é de Deus, porque a experiência de Deus (moção) é descentrada = leva para fora de mim. A linguagem indica se está centrada ou descentrada.

Toda relação provoca emoção: positiva ou negativa. Aqui não existe juízo moral. Todo sentimento é humano; o que faço com o sentimento é moção, é no nível do agir. Indagar, então: e daí? O que provocou? Depois do sentir, do pensar: e daí? Vem o agir.

Há líderes em que o medo impede de fazer ressurgir a liderança. O verdadeiro líder tem medo, não sabe se vai dar certo, mas ele se arrisca, enxerga longe. Toda liderança faz correção de percurso. Tem que provocar liderança nos outros e vai deixar-se liderar por alguém do grupo. Há lideranças múltiplas, estas não são concorrentes, são complementares, intercolaborativas; delegar é provocar lideranças, por isso é preciso ser contemplativo do outro. O falso líder cria seu próprio escaninho: se ele não chegar, nada acontece. O problema é quando a pessoa sabe que pode liderar e se recusa, renuncia. O líder desenvolve uma consciência convicta diante de um aspecto da realidade que pode e deve ser diferente.

Que lideranças tenho exercido?

O retiro termina com o desejo de uma diakonia, termina com uma postura existencial diferente. A experiência provoca uma transformação muito intensa. No EVC, eu não seleciono a pessoa, é própria vida que faz isso.

Relação entre acompanhamento espiritual e gestação de lideranças a partir do encontro com Deus que sabe que existe algo na realidade que eu posso fazer diferente. Esta convicção leva ou não a engajar-se, pessoalmente, na transformação desse aspecto da realidade: ação de Deus que me ajuda a escolher na perspectiva do divino. Deus nos move para as realidades que ninguém quer. Com quem eu estou? Eu me deixei levar ou eu escolhi? Quais as raízes da minha tentação de fazer a coisa boa que não serve para nada? O referencial do bem que eu faço é o outro ou sou eu? A experiência espiritual é que me aponta para onde ir e verifico por onde Deus está me conduzindo no acompanhamento espiritual. O mal nos tenta para fazer coisas boas. O que me leva a fazer a escolha? O próprio da liderança é não olhar para a própria capacitação e vai além dos limites.

Os sinais dos tempos: o que tenho para compartilhar ajuda, mas a necessidade é sinal, e o referencial de decisão é o outro, por isso nunca existe “missão impossível”, porque há uma relação com o divino. Não são os pobres que me chamam, mas Deus que me conduz a eles. A experiência relacional com Deus me diz para onde devo ir. A resposta ao apelo sou eu que dou. O encontro com Deus provoca apelos e dou a resposta.

No acompanhamento espiritual, verificar: onde a pessoa diz que encontrou Deus? Qual o espaço sagrado que a pessoa já tem? O ponto de partida é Jesus Cristo, porque é Deus visível, experimentável. De Jesus eu vou ao Pai, ao Espírito Santo, à Maria. Verificar a raiz da motivação: está centrada (em mim) ou descentrada (no outro)? O autocentrado tem o discurso do “eu” e Deus é Ele, não existe o nós. Anotar palavras que são indicativas do lugar onde a pessoa está e provocá-la para ir além, porque a vida espiritual é movimento contínuo. O bem que faço é o bem que deveria estar fazendo por causa de Deus?

A graça nos leva além dos limites. A vida é movimento e a relação com o divino também. Estamos sempre em processo. Jesus fala no caminho. Viver cada dia como se fosse o último. A agregação é em torno do Projeto, da causa. Jesus diz: é preciso que eu vá...

Como vamos viver a partir da espiritualidade inaciana no mundo de hoje? Na diversidade. A liderança espiritual não é uma técnica. A causa envolve profundamente as pessoas e tem uma pessoa de referência. Por ela arriscou tudo de forma apaixonada: mística e missão. O líder é contemplativo dos outros, tendo presente a finalidade para identificar aquilo que as pessoas têm de melhor para contribuir com o grupo. É um provocador da ação do outro. Há três formas de liderança:

1. Originante

2. Originada

3. Servidora



A primeira é a liderança de Pedro no grupo apostólico: ele tem capacidade de agregar os outros e gera lideranças originadas, porque todos têm dons. O líder originante tem como referencial a causa que vai ser projetada no cotidiano. Caracteriza-se pelo encorajamento. O que é de Santo Inácio nos EE é a metodologia; o resto é leitura bíblica. Só a liderança me permite contribuir. O que vem antes da eucaristia é a vida real e a comunidade. O Coração de Jesus está exposto, enquanto o nosso está protegido dentro de uma caixa.

A tentação do mal é para uma coisa boa, o ”tentador” nos leva a fazer o bem que não é de Deus. Observar a raiz das motivações. Toda vez que estamos “carentes” usamos alguém, busco apossar-me do outro. A esmola em si não é ato cristão, atitude cristã é a relação. Discernir significa cortar o que aparentemente é bom, para fazer aparecer a bondade que está dentro. A malícia do mal é fazer o bem que é inútil. Quando não avalio o que estou fazendo, aí o mal entra. Algo só é bom quando é relacional, são os efeitos que clarificam.

Na dimensão espiritual, vamos trabalhar com as motivações que se diz ter. O retiro vai introduzir na realidade para identificar os que mais precisam. A resposta do leigo, da leiga inaciana é diferente da resposta do jesuíta aos mais necessitados. Tem que haver um deslocamento social a partir do carisma: nós buscamos e encontramos os mais necessitados. Se vou à favela, onde estou? Com quem? Onde me situo? A que pessoas temos de servir? A quem somos chamados a servir? Não há nenhuma ação prévia, o que valida é a diakonia da ação. Até Jesus teve de aprender da realidade: a Samaritana.



Etapas dos EE para perceber o Processo das Lideranças na relação com o objetivo de cada Semana:

Primeira Semana:

Entro em contato com Deus–Pai como filho/filha → EU. O acompanhamento espiritual na Primeira Semana: o jeito de Deus se relacionar conosco, porque temos dificuldade de aceitar a paternidade/bondade. Se Deus me ama como eu sou, por que viver numa tensão contínua com o que sou? Experimento ser amada como sou ou estou preocupada com mudanças em mim? Toda e qualquer mudança é resultante da relação e, se a relação é verdadeira, alguma coisa muda. A relação com Deus é que provoca a mudança e os outros é que percebem. Inácio propõe eu me situar como pessoa diante de Deus: como filho/a amado/a. Na perspectiva de Inácio, o pecado era muito importante, e pecado é o lugar humano onde me situo para servi-LO, para ser reconhecido como filho/a pecador/a perdoado/a. Permanecer na condição pecadora é que é ruim. A relação de Deus conosco é no limite de nossa possiblidade. É preciso chegar no máximo possível da possibilidade agora. Arriscar-se em Deus é testar o limite do seu limite.

Se viver intensamente a Primeira Semana, tudo fica bem, porque a pessoa fica mais segura e percebe a bondade do Pai. Na parábola do “Pai Misericordioso”, Ele não pode ser justo, porque o Pai é bom. Todo o psicológico precisa ser colocado para ser santificado. O mal é carência, ausência, e a Primeira Semana ajuda a perceber o padrão: eu reconheço não os meus pecados, mas a condição pecadora que implica querer Deus comigo. O céu é o lugar de pecadores perdoados. Não é uma Semana de negação, mas de afirmação do amor de Deus. Eu posso recusar o amor de Deus. A resposta ao dom de Deus só vai acontecer no último momento da existência. O EVC acontece na vida real, como ela é, e fica mais extenso do que no retiro fechado.

Exames: é uma questão de época. Hoje, o importante é saber: como é que eu funciono na vida? Onde o processo de autocentramento, que o mal provoca, começa em mim? Algumas situações tenho que melhorar, outras prevenir e outras afastar: “regras de limites”: ascese. Que limites estabelecer para que minha vida seja mais significativa para mim e para os demais, para que a vida fique mais eficiente em torno da graça?

Nos EE, acompanhamos como a pessoa reza, o processo orante, mas é, também, uma relação de ajuda para trabalhar a relação dela com o divino → com quem ela reza: Pai – Filho – Espírito Santo? Daí começa o acompanhamento, para aprofundar a relação a partir de onde ela está. Se for com Maria, lembrar que é Maria quem nos dá o Filho. O aprofundamento relacional deve chegar a sentir-se filho/a de Deus. A dificuldade maior pode estar na relação com o Pai humano. Se eu olhar para Deus-Pai, o meu pai humano vai ser sempre imperfeito e preciso perdoá-lo. Toda relação pai - mãe - filho é sempre uma relação de perdão para me sentir perdoante e seguir a partir daí.

Quais as marcas que trago na minha vida? O perdão não apaga, o que muda é o “começar de novo”. Quando perdoa, não precisa ficar remoendo. Deus não apaga os pecados, Ele vai além dos pecados. Muito antes de pedir perdão, Deus já me deu o perdão. Eu não devo nada a Deus porque Deus me ama. Não importa o que tenha vivido, porque é ato de fé o amor de Deus. Ajudar o acompanhado a lembrar situações em que foi perdoado, talvez buscar uma reconciliação. Penitência é ato concreto que restabelece o que estava quebrado. Quem resiste a perdoar é porque não se sente perdoado.

No livro, pág. 33: a liberdade espiritual: ser livre espiritualmente é tornar realidade toda potencialidade que temos. A liberdade possível para cada pessoa. Pecado são situações, obstáculos, distrações que bloqueiam o sonho de Deus para nós: ser fiel à finalidade que é de sermos filhos e porque filhos somos irmãos. Tem coisas que, obrigatoriamente, tenho que mexer, por exemplo, a liberdade com e para ser filho/a. O que nos torna irmãos é o único Deus que temos, todos são templos de Deus.

Misericórdia é eu me colocar do tamanho do outro, ficar de igual para igual, abaixar-me. A Encarnação é o resultado do desejo de Deus de ficar do nosso tamanho: inclinar, conviver com o diferente, permitir que o outro conviva comigo. O próprio do pecado é que faz aparecer o pior lado que todo mundo tem. Começo a perceber minhas fragilidades (pecado pessoal). O pecado é uma postura, não é um ato isolado. Se experimento a História como lugar de reconciliação é porque ambos somos amados por Deus. Como eu lido com esse processo?

A fraternidade se constrói e se fortalece no conflito. O objetivo do conflito é dar um salto qualitativo. Experimento a paternidade com Deus que se estende às outras pessoas. O contemplativo do outro percebe os sinais de Deus nele. O que nos une são as semelhanças. O Deus fraterno entre nós é Jesus, pessoa real, e começa com o nascimento, segue com os mistérios da vida.



Observar:

• A minha relação com Deus enquanto Pai

• A minha relação com os outros que também são filhos de Deus.



No início, olho as pessoas mais próximas; no final dos EE é que contemplo e busco o irmão mais necessitado: vai alargar o universo → missão

Retomar as relações, reconstruir laços, retomar as relações rompidas: quais posso restabelecer hoje? O que define o tempo do sacramento é a penitência.

Como ser fiel a Santo Inácio hoje? Mudando para evitar a conservação.

Acompanhar alguém supõe o respeito à liberdade, sem exigir nada.



Primeira Semana

Autoconhecimento e Filiação: eu me conheço a partir de ser filho/a de Deus. Deus é sorridente.

1. P.F. (EE23): para que viver, como viver, critério fundamental é a indiferença: importa a situação

2. Conhecer-se (EE24ss): exames para perceber seus limites, o que pode perturbar o P. F.

3. Exame Geral (EE32ss): conhecimento mais íntimo dos pecados e de sua malícia (fragilidade)

4. A Eucaristia: relação que ajuda crescer na graça

5. Adições: base humana par a relação orante com Jesus, para a relação com o divino, porque toda oração se dá num quadro humano: horário

Para Inácio, a Terceira Semana é passagem para a Ressurreição. Aproveitar, inacianamente, é não deixar perder nenhum momento, aproveitar o dia de hoje, porque não sei qual é o momento de Deus. Que tempo a pessoa dá à oração? Espiritualidade é para mergulhar no hoje, não para fugir. Mergulhar no hoje, porque a vida espiritual é do tempo presente.

Os Exames vão me ajudar a perceber os meus mecanismos que funcionam ou não, porque somos produtos de uma história, com marcas de outras pessoas e Deus também deixa marcas em mim. Não é para ver o que está errado, mas para ver como eu funciono, porque grande parte da estrutura de funcionamento nós não escolhemos. Isto significa viver do jeito que a gente é, para perceber nossos limites. Tem coisas em mim que eu preciso ficar atento, porque podem ser boas para mim, mas para outros não, porque a graça é maior.

Exame Geral: é onde aprofunda as tendências do nosso ser; ajuda a perceber o rumo da minha vida, para perceber para onde estou indo: o que eu sou e aonde vou chegar.

A Eucaristia tem duas dimensões: do encontro com o divino e do encontro com a comunidade. É uma relação interpessoal com Deus, mas não é um ato solitário, por isso acontece na comunidade e estabelece uma relação palpável com o divino.

Oração é relação com Deus e não com a vida, senão vira autocontemplação. O que faz a gente viver são as nossas relações. A revisão da oração é para buscar o efeito: o que aconteceu? E sempre se refere a Deus, porque não rezo para saber de mim, mas para saber de um Outro que não sou eu. Na oração eu encontro Jesus, que me revela quem eu sou.



Segunda Semana: A Causa de Jesus

Jesus provoca o desejo de seguimento (rei temporal) EE 91ss. A resposta: eu quero e desejo e é minha determinação deliberada (EE 98). O que ele faz provoca o desejo de segui-lo. Não podemos considerar Deus errado, porque Deus não tem privilégios. O povo de Israel é eleito porque Maria atraiu Deus para aquele lugar. Ela é a escolhida que se fez escolha. Nós valemos por causa de Maria. Foi uma mulher que acolheu Jesus. Ninguém acolheu Deus como Maria, nenhum ser da Criação.

É na oração que o acompanhante se localiza para ajudar o exercitante. Os milagres de Jesus não são tão importantes, o central é a encarnação: “Igual a nós em tudo, menos no pecado”. O que nos torna profundamente humanos é a experiência com o divino.

Deus não é um seguro de vida. A vida é o que ela é. Nós sabemos onde estão os nossos mortos, nós não os perdemos. Renunciamos aos nossos direitos por causa do amor. Sentir não é pecado, mas consentir abre o espaço para o amor se instalar. E a tentação pode estar no querer fazer justiça. A vida também é feita de dor e, através de Jesus, eu me relaciono com a dor de modo diferente. Perdoar não é esquecer, é “zerar as coisas” e permitir que o outro venha. A ressurreição faz com que, haja o que houver nesta vida, a vida continua valendo a pena.

Acredite naquilo que ajuda a ter uma imagem mais bonita de Deus, porque, se fere a imagem de Deus, é tentação. Tudo o que sabemos de Deus é provisório, porque nada é perene, tudo é provisório. Relativizar as posses porque o divino não se deixa possuir, porque a glória de Deus está sempre no futuro. A espiritualidade inaciana é desestabilizante, não é um porto seguro e ensina a libertar-se dos apegos. O tempo de Deus é amanhã. O passado é ruim quando ele se presentifica: ninguém desliga botão, mas, também, não se fica nele senão petrifica.

A causa de Jesus não é uma coisa, uma ideia, é uma relação que começa na Primeira Semana e o caminho são os evangelhos, os três sinóticos (apresentam Jesus mais “pé no chão”) porque João é mais especulativo.

Depois do Batismo, Jesus provoca o desejo de estar com ele e só faço isso quando a pessoa é tão significativa que é mais gostoso ouvir do que falar; por isso o silêncio para rezar, é pôr-se na escuta, valorizar a palavra que é dita. É por fascinação diante da pessoa de Jesus que eu silencio. O silêncio da oração é de atenção. A distração pode ser uma traição. Se tenho dificuldade na oração, é porque fragilizou o apaixonamento; então, precisamos retomar o apaixonamento → que vem de dentro, de fora vem a provocação “Tu me seduziste e eu me deixei seduzir”. Na distração, trabalhar o apaixonamento de acordo com a possibilidade de cada um, porque Deus se adapta a cada pessoa.

Ajudar a entender o Evangelho como revelação de uma pessoa, que é Jesus, e não me procurar no Evangelho (eu sou como...). A samaritana não importa, e sim, Jesus quebrando todas as regras. Deus nos procura do jeito que cada um é. O centro é Jesus, é cristocêntrico, por isso olhar para Jesus histórico, gente. Eu não rezo para me enxergar, porque o centro da nossa atenção é Deus, mas isso me afeta. Jesus se deixa manipular para o seguimento acontecer, ele se coloca em nossas mãos, vivendo como nós.



Lectio Divina:

Silenciar (em relação a quê? Para quê?)

1. Lectio = escuta da palavra bíblica, por isso ler 01, 02, 03 vezes e fechar a Bíblia

2. Meditatio = o que guardei? O que sobrou? Recuperar o que ficou em mim da Palavra. O que isso que sobrou me conta de Jesus? O que provoca em mim?

3. Oratio = louvor, súplica, ação de graças: eu falo, falo, falo...

4. Contemplatio = quando esgoto a palavra, entro na contemplação, onde a palavra é inútil. Se falar atrapalha... volta ao silêncio.

No Antigo Testamento não tem Pai, é Deus Todo Poderoso, mas Ele é Pai.

O Dom de Deus como manifestação é igual para todo mundo. O nível de apreensão é que é diferente. E acompanho para verificar. Observar se fala de uma experiência relacional ou de uma ideia que foi colocada. Toda experiência/texto de vida tem que ser articulada pelo discurso. Quem me diz da verdade das coisas é a pessoa.