domingo, 2 de outubro de 2011

Aprofundamento nos EE...

Conhecido por sua pontualidade, o padre jesuíta, Pedro Maione inicia seus cursos de forma peculiar: abraça individual e calorosamente cada participante e diz uma palavra que alegra o coração. Desta vez, não foi diferente, todas as pessoas que compareceram ao CIES, entre os dias 22 e 25 de setembro, puderam, mais uma vez, beber da Palavra de Deus por meio de um sacerdote religioso que tem dedicado sua vida ao Senhor Jesus: o Pobre do Calvário. As Regras dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola tornam-se, ao mesmo tempo, mais belas e mais significativas, cada vez que ouvimos as explicações de Pe. Pedro. Entre os vários temas abordados durante o Aprofundamento, vale destacar:

1. Devemos procurar o Senhor autêntico, o Jesus que pede uma identidade verdadeiramente cristã, na fraternidade e em espírito de Oração.
2. A carta a Diogneto, escrita por um autor desconhecido entre o II e III século d.C, que fala acerca do modo como viviam os cristãos naquele tempo: “estão no mundo, mas não são do mundo...”
3. O problema vivido pela sociedade atual e os católicos;
4. Quanto nós, católicos, sentimos a necessidade de procurar o Senhor Autêntico?
5. As Bem Aventuranças (Mt 5; Lc 6, 20-23), como centro, que chamam a atenção para o modo de viver das pessoas no mundo de hoje:

          As pessoas rezam uma coisa e vivem de modo diverso. O que é viver a pobreza? Jesus falou a uma multidão e não apenas a padres, freiras, para não fazer do dinheiro um ídolo.
Mansos e humildes de coração: somente aquele que tem domínio de si mesmo é forte, os que não sabem controlar seus ímpetos e pensamentos, não o são.
Bem aventurados os misere-cor-diosos: aquele cujo coração tem compaixão, que não é egoísta; Sou misericordioso ou vivo o individualismo praticado pela sociedade atual?
Bem aventurados os que promovem a Paz: eu sigo a verdade? Defendo a Bandeira do Senhor Jesus?
         Nesse momento, padre Pedro fez referência às “Duas Bandeiras”, um dos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, que são dirigidas ao intelecto interior para que o exercitante possa saber qual é o Caminho de Deus e, pelo menos, DESEJAR VIVER segundo o Espírito do Evangelho: A BANDEIRA DO SENHOR.
  •  Nós deveríamos nos perguntar: o que é SER CRISTÃO?
  • Quem AMA, realmente, O SENHOR?
  • Quem é que SEGUE aquele que foi cuspido no rosto, coroado com espinhos, crucificado e morto num madeireiro e que, antes de morrer, diz: ‘Pai perdoa-lhes, não sabem o que fazem’?
  • Muitas pessoas pregam as Palavras do Cristo, mas não SEGUEM o Cristo do Calvário. O que, de fato, me impede de SEGUIR o SENHOR?
6. O Jovem rico pergunta a Jesus: O que devo fazer? E Jesus OLHA para ele com AMOR: (Mc 10, 17-22). É preciso ser LIVRE.
7. Os Apegos: apenas os santos cortaram IMEDIATAMENTE os apegos.Todas as pessoas têm uma coleção, pequena ou grande, de apegos. Qual é a minha e qual o seu tamanho?
Nosso coração é uma fábrica de colas e por isso os apegos impedem de seguir o Cristo. Enquanto uns dizem: ‘te seguirei para onde quiseres”, outros dizem: ‘[...] deixa que primeiro eu enterre meus mortos’; Mas Jesus diz: “Quem coloca a mão no arado e olha para trás [...]”
8. Para se chegar à Santidade: se não fossem os apegos, muitos de nós seriam santos, mas eles nos prendem, nos tiram a liberdade: esta é a grande dificuldade.
9. Padre Pedro afirmou que, para sermos cristãos autênticos, precisamos ser ORANTES, MARIANOS E EUCARÍSTICOS, porque o segredo consiste, em primeiro lugar, no enamoramento pelo Senhor , através da graça do desapego, do coração livre, isto é, o verdadeiro segredo chama-se AMOR. Sem Nossa Senhora no meio é impossível chegarmos ao fim, pois ela sempre nos leva ao Filho.

Dia 23


Carta a Diogneto; EE 149-155; Evangelho de João (6, 51-58)

      O destaque foi para a carta a Diogneto, e Padre Pedro explicou que se trata de uma carta escrita por um cristão, por volta do ano 120 d.C para responder às indagações de Diogneto, pagão culto que desejava conhecer melhor aquela religião que se espalhava pelas províncias do Império Romano. Diogneto estava impressionado pela maneira como os cristãos testemunhavam o Amor que tinham uns para com os outros e queria saber que Deus era Aquele que lhes prestavam culto. Ao falar sobre os mistérios dos cristãos, destaca o modo de viver, a doutrina e o testemunho, abaixo o conteúdo lido durante o curso:

5. Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casas gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio.

      Em seguida, Pe. Pedro retomou os EE de Santo Inácio e nos falou sobre a Meditação das “Três Classes de Homens” para abraçar o que é melhor (EE 149 - 155), lembrando que deveríamos levar os nossos irmãos a viver o cristianismo autêntico, mas, sem a GRAÇA, é impossível. Nós, por vocação, devemos tender à santidade, mas nem sempre existe clareza sobre o que isto significa.
Padre Pedro rezou a oração “Alma de Cristo”, chamando nossa atenção para os verbos e, principalmente, para a terceira frase: Sangue de Cristo, INEBRIAI-ME e diz que gosta de rezar como os espanhóis que trocam o verbo inebriar por EMBRIAGAR e assim dizem: EMBRIAGAI-ME COM TEU AMOR

Alma de Cristo
Alma de Cristo, santificai-me
Corpo de Cristo, salvai-me
Sangue de Cristo, inebriai-me
Água do lado de Cristo, lavai-me
Paixão de Cristo, confortai-me
Ó Bom Jesus, ouvi-me
Dentro de vossas chagas, escondei-me
Não permitais que eu me separe de Vós
Do espírito maligno defendei-me
Na hora da morte chamai-me
E mandai-me ir para Vós
Para que com Vossos Santos Vos louve
Por todos os séculos dos séculos, Amém.

     Depois, lançou a seguinte pergunta: “O que os EE nos pedem?” E respondeu: “A renúncia a ser medíocres e remar contra a maré que está dentro de nós mesmos e, por isso, esta é uma etapa muito séria”.
“Tens grandes desejos? Queres ter grandes desejos?” Quem não tem grandes desejos aceita a mediocridade como norma de vida”. Para a oração pessoal, deixou a seguinte citação: “Quem come minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia ( Jo 6, 54)

Sábado:

      Pe. Pedro retomou as Bem Aventuranças, Os Três Graus de Humildade, O Pecado mortal e o Pecado venial, os santos modernos e a preocupação com não sentir e, assim, não perceber o verdadeiro significado dos EE e indagou: Meu coração tem esta liberdade? Meu coração deseja ser libertado pela GRAÇA? Quem ama pode, quem não ama, não poderá nunca NADA.

EE 165: Obedecer em tudo à Lei de Deus nosso Senhor. Não transgredir um mandamento divino ou humano que obrigasse sob pecado mortal. Se eu amo o Senhor, de verdade, eu não cometo pecado mortal. A única solução é nos encantarmos pelo Crucificado. Quem ama não ofende, não fere. Sentir não é pecado, o pecado consiste no CONSENTIR. Muitas vezes, evitar o pecado venial torna-se um ato heroico.
EE 166: O segundo grau é mais perfeito que o primeiro: ter o coração livre.
É quase, humanamente falando, um absurdo, porque, no cristianismo que se vive hoje, não há amor de verdade. É preciso viver santamente.
Aquele que ama, apaixonadamente, o Senhor, não comete pecado algum. Há uma assimilação maior com Cristo. Se não chegarmos ao segundo grau, como poderemos propor o terceiro?

Falar do 3º Grau de Humildade pede mais pobreza com Cristo pobre. Sem viver o primeiro, não tem nenhum sentido. É preciso ter cuidado ao dar os EE e os Retiros, para que, diante deste Senhor, que por mim aceitou tudo, devo enamorar-me e, diante Dele, “Tudo é nada”. Devemos ser orantes, colar Nossa Senhora no meio para que seja nossa cúmplice e, assim, aceitarmos Amar o Cristo apaixonadamente. Que comecemos a sentir desejo de desejar.

Padre Pedro pergunta de forma incisiva: Quem vive isso, hoje?
Os santos modernos: Padre Pio, Irmã Dulce, Madre Tereza, Papa João Paulo II são exemplos para nós.
Nós não desejamos, não lutamos para ser santos. O terceiro grau pede partilhar injúrias, injustiças, sofrimentos, tudo com Deus. É fácil dizer, mas difícil FAZER! Não podemos não sentir a dificuldade de ficarmos angustiados, não percebermos o real significado dos EE.

Na segunda parte do encontro, Padre Pedro explicou o significado da Eucaristia, fez uma reflexão sobre a criação dos primeiros humanos, o não seguimento à Lei, a quebra da ponte entre Deus e a humanidade através da desobediência e a infinita bondade de Deus e a vinda do Salvador na plenitude dos tempos para a nossa Redenção. Aquela criança que nasce em Belém, paga com sua morte o pecado da humanidade: Redenção Vicária (= em lugar de). No Cenáculo, durante a Ceia, que nós chamamos de última, O Senhor antecipou o calvário. Jesus reparte o pão e oferece a todos dizendo: “Isto é o meu corpo que está prestes a ser partido em vosso lugar”. Depois toma o cálice com vinho e diz: “Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, que está prestes a ser derramado em vosso lugar”. Pelas espécies eucarísticas, o Senhor está presente como Imolado.
      Para explicar melhor, ele retoma Êxodo 12 que fala sobre a páscoa dos Judeus: o primeiro mês do ano judaico do ABIB = NISÃ (N), no dia 14, os judeus deviam matar os cordeiros [...]. No dia 13 de NISÃN, depois da escravidão da Babilônia, o Senhor antecipa o Calvário e no dia 14 de NISÃN, no mesmo horário em que os sacerdotes matam os cordeiros, sob a Cruz, morre o CORDEIRO DE DEUS. O Antigo Testamento se faz NOVO, na Plenitude dos Tempos. Assim, a Missa é uma repetição do que aconteceu no calvário; quando participamos da Eucaristia, somos transportados (=projetados) para o calvário. Ao nos alimentarmos com a Eucaristia, devemos sentir como São Paulo e dizer: “Não sou eu, é Cristo que vive em mim” e me transforma, transfigura com o imolado.
      Sobre a Última Ceia, Padre Pedro destaca Jo 13: 3 sabendo Jesus – ele sabia e se entregou livremente [...] 4 Levanta-se e tira o manto: tomando uma toalha, enxuga a humanidade. O verbo Eterno assume nossa humanidade e Pedro não quer que Jesus lave seus pés. O Senhor lhe explica [...], Depois, Jesus retoma o manto e volta ao seu Lugar, Divino. Ao instituir a Eucaristia (Lc 22, 19-20), Jesus deseja que a vida seja colocada a serviço. Lc 22, 24-27, a poucas horas da Paixão, os discípulos brigam entre si para saber quem é mais importante.
       Quando comungamos, somos assimilados pelo SENHOR, que se coloca a serviço até a morte, por isso, COMUNGAR é UM PERIGO. Comungamos assim? Ou vou comungar para ter uma consolação? Ou: assimilado cada vez mais por ELE, como aquela gota de água colocada no vinho, sinto que, aos poucos, não sou eu que vive, mas CRISTO vive em mim? Aqui se compreende a tristeza como nós participamos da missa. E eu o que sinto ao comungar? O que significa a Eucaristia para mim? Eu, pequena gota de água humana, me perco de amor? Ela me embriaga? Eu não posso mais viver sem a Eucaristia?
      Os nossos pés espirituais nos levam ao Calvário, enquanto os nossos olhos espirituais esquecem que nos tornamos Sacrário, Tabernáculo Vivo do Senhor, dizem os teólogos e os padres da Igreja.
Se vivêssemos a Eucaristia, viveríamos transfigurados, assimilados por Ele, deveríamos nos colocar a serviço e, assim, a Eucaristia passaria de devoção a ALGO VITAL. Como Irmã Dulce, Madre Tereza e tantos outros, devemos colocar nossa vida a serviço e, quando estivermos em perigo de morte, estaremos EUCARISTIZADOS.
      Deveríamos ter uma reverencia extrema ao Senhor, mas hoje, cada vez mais, nos tornamos irreverentes. A verdadeira REVERÊNCIA deve estar no coração: porque o Senhor vem a mim e me assimila, sou Sacrário Vivo do Senhor e, por isso, não posso ser medíocre. Jesus, ao se aproximar dos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35), vai no ritmo deles. É bom lembrar que Deus aceita o ritmo de cada um de nós.

      Padre Pedro também explicou, detalhadamente, cada uma das partes da missa, desde os ritos iniciais até a bênção final, lembrando que deveríamos ser sempre trinitários: Ao Pai, pelo Filho no Espírito.
Acolhida: fazer dos presentes uma comunidade orante;
Ato Penitencial: diante de Deus nos sentimos pecadores, por isso devemos pedir sua Misericórdia.
Glória
Oração de Coleta ou Oração do Dia: silenciosamente, o sacerdote recolhe as orações que os fiéis recolhem no coração.
Liturgia da Palavra: proclamam-se as Leituras em voz alta, devagar, porque o leitor é profeta (pro- ferer, em latim) coloca a Palavra de Deus diante de.
Liturgia Eucaristica: Pe. Pedro falou sobre a comunhão nas duas espécies, que deve ser dada somente na boca, enquanto, sob uma espécie, o cristão pode escolher se recebe na boca ou na mão.
     Os cinco erros ao rezar o Pai Nosso:
1. Devemos rezar o Pai Nosso, juntos, mas não de mãos dadas, porque, na Missa, esta é uma oração de SÚPLICA e preparação para a Comunhão;
2. Devemos dizer: Pai Nosso que estais nos céus (plural) [...] e assim na terra como no céu (singular), como está no Evangelho, por fidelidade à Palavra de Deus;
3. Também dizer o Vosso Reino e não ao Vosso Reino;
4. Perdoai-nos as nossas ofensas;
5. No final do Pai Nosso, na Missa, não se deve dizer AMÉM, porque tem o embolismo, ou seja, a oração que é só do Padre: “Porque vosso é o Reino, o Poder e a Glória para Sempre”.

Falou, ainda, sobre o silêncio sagrado, após a comunhão, os cantos que devem estar em sintonia com a celebração, isto é, terminar com a ação.
O centro da Igreja é o ALTAR, a FIGURA de CRISTO, LUGAR do SACRIFICIO.

SOBRE A ORAÇÃO:
      Para a maioria das pessoas, a oração pessoal significa meditar, mas devemos passar da oração de meditação para a oração de contemplação. Quem sabe se encantar com o luar, com um pássaro, com o mar, deve aprender a contemplar os mistérios da vida de Jesus. Para ser contemplativo na oração é preciso superar a fase da materialidade, ela impede a contemplação.
      Sl 63 (62) podemos ficar apenas com este versículo: “minha alma tem sede de ti”, porque, na oração contemplativa, vivemos uma passividade ativa, deixamos que o Senhor, com sua presença, nos fascine e, como Maria, dizemos: FAÇA-SE! O barulho não deixa que a contemplação aconteça, por isso o silêncio interior é de suma importância e requer esforço de nossa parte...
      Sl 42 (43) ; “minha alma brami por ti”, podemos escolher uma palavra, um verbo, uma frase e passar horas repetindo interiormente ou até cantar. E da oração contemplativa nasce o enamoramento com o Senhor, isto é, a todo momento podemos perceber sua maravilhosa presença.
      Os salmos são mais para a alma e o coração do que para o intelecto; tendo como exemplo os salmos abaixo, vejamos se nós conseguimos mudar nosso relacionamento com Deus, então, algo em nossa vida vai mudar:
1) Salmo 44 (43): como posso ter medo;
2) Salmo 51 (50): “Tem piedade de mim ó Deus [...] purifica-me [...] “
3) Sl 73 (72): “Quanto a mim, estou sempre contigo [...]

(Cesarina Marques)

Um comentário:

  1. O Pe. Pedro Maione é um excelente orientador espiritual, temos a grande benção de tê-lo presente em nosso CIES de Teresina - PI.

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