domingo, 5 de dezembro de 2010

DEUS ÍNTIMO E AMANTE


Todos os dias Ele rasga o céu e entra no mundo, pequeno e nu.
Precisado de nós, come o pão que o diabo amassou, trôpego e embriagado pelo PAI, qual ébrio nas madrugadas.
Anuncia o Reino, mas aparenta ser plebeu e pobre que nem Jó.
Sua divindade contaminada de carne humana, na nossa carne torna-se Deus com a nossa cara, nossos achaques, nossas mortes e ressurreições de cada dia.
Ele é o Nosso Senhor, mas tão íntimo parece outro Eu conosco, de quem não é ocultado o que de nós mesmos se oculta.
Quando nos esquecemos de Lhe abrir a porta, senta-se no batente e espera que sintamos sua falta. Então, entra e faz a festa, serve-nos sua Palavra, às vezes guardada, pois Ele soube antes que precisaríamos dela e por acaso abriríamos a gaveta...
Ele não nos deixa na penúria: investe nossos bens espirituais, poupando em nossa alma uma ou outra jaculatória, como “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”, promessa sussurrada que nos convence: dormimos em paz como criançinha no colo materno! Oh, tesouro de que tanto precisamos!
Se pedimos, aconselha-nos o jeito, a busca, a renúncia, falar ou silenciar.
Espera cem anos até ser escutado. Ele não grita, nunca eleva a voz, não clama nas ruas. Não quebra o caniço rachado, não extingue a mecha que ainda fumega (Is. 42, 2-3).
No cansaço, carrega conosco nossa cruz de gravetos e nos fortalece com o Pão e com o Vinho, alimentos que nos oferece.
Quando nos achegamos arrependidos, esconde-nos o rosto na curva de seu ombro antes que possamos dizer, pois se há algo que O aborrece é ouvir-nos falar mal de alguém, ainda que seja de nós próprios.
Sendo nós tão livres e Ele tão definitivamente colado em nós, torna-se cúmplice de nossos delitos. Qualquer tribunal humano condenaria um Deus assim, razão de suas cicatrizes que nos recordam uma cruz...
Sabendo-O ferido, quem sabe queiramos cuidar Dele, beijar-Lhe a face, declarar nosso amor. Mas, então, sutil e firmemente, Ele desviará nossas mãos e nosso olhar para o mundo, onde Ele tem várias caras e donde nos olha, espera, chora e ri.
Se nos deixamos atrair, celebramos o Natal, nós e Ele, em todos.
Hoje, amanhã, e depois também.

Nas alegrias e consolações do natal cotidiano,
a feliz celebração do Advento e do Natal Santo.

Iranaia – Natal 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário